segunda-feira, 13 de agosto de 2012


A Ordem da Virgem

Assim como o vínculo dos primeiros eremitas com Elias era evidente, por isso as lendas em torno dele tinham coerência lógica, também era patente a relação primitiva com a Virgem. A ela foi dedicado o primeiro oratório e a ela traziam gravada no nome. Os patronos tinham para a sociedade medieval uma importância muito
maior que em nosso tempo. A consciência era de que os patronos não eram escolhidos, mas eles é quem escolhiam para si a igreja, a cidade, o país que protegiam. A importância era tanta que entre as cidades medievais havia uma disputa para ver qual o patrono era mais forte. O Brasil barroco, filho de Portugal, assumiu esta reverência pelo padroeiro. No interior de Minas Gerais encontra-se uma pequena cidade que mantém uma interessante tradição. Na câmara de vereadores existe uma cadeira vitalícia reservada para Santo Antônio, o padroeiro da cidade. É como se ele participasse da vida da comunidade. O salário de vereador é entregue todos os meses à paróquia local.
Ser patrona significava não só ter o dever de honrá-la, mas também de garantir sua proteção. Existia a concepção de uma relação recíproca: o fiel oferecia o obsequium e oservitium devoto e  total ao titular e, em troca, recebia “ajuda” e “proteção”, “graças” e “benefícios”. Este é, justamente, o caso do monte Carmelo. O título mariano se transformará na origem de uma fonte espiritual profundamente encarnada. A Virgem Maria será a Patrona do grupo, e o grupo se sentirá unido a ela vital e existencialmente, considerando-se inclusive “instituído para honrá-la e servi-la”. Eles podiam reivindicar, com todo o direito, o título de “Irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo”. Maria era a Senhora absoluta dos Carmelitas.
O mais notável entre os teólogos carmelitanos daquele tempo, João Baconthorp, aplica a Maria a promessa divina feita em Isaías: Data est ei decor Carmeli - dar-te-ei a beleza do Carmelo. Para ele Maria é quem embeleza o Monte e o Monte é dela, ela é a Senhora do Carmelo, a Dominca Loci. O itinerário do Carmelita será o de tudo fazer para a sua honra e glória porque, segundo a vontade divina, esta é a razão da existência de sua Ordem. A vida do Carmelita exige, por isso, uma sincera e vasta imitação das virtudes contempladas em Maria, porque a conformidade é o meio melhor para a sua glorificação.

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