História



Nós, Carmelitas Descalços, respondemos ao chamado de Cristo, sendo presença viva no meio do povo, anunciando o Reino de Deus com o trabalho nas paróquias, na orientação de retiros, na assistência as monjas carmelitas, na promoção de vida espiritual e aonde a Igreja precisar do nosso trabalho apostólico.
Somos chamados de Carmelitas, porque a nossa família religiosa teve sua origem no Monte Carmelo, na Terra Santa. Carmelo significa “vinha fértil”, “jardim florido”, “graça e fertilidade”. O Monte Carmelo é várias vezes citado nas Sagradas Escrituras, como sinônimo de beleza e formosura.
Lá, no início do século XIII, alguns fiéis que participaram das cruzadas começaram a viver como eremitas no Monte Carmelo, dando origem a Ordem dos Carmelitas. Esses homens se estabeleceram junto à fonte de Elias e o tomaram como modelo. Mais tarde construíram uma capela em honra a Nossa Senhora, consagrando-se a ela e aos seus cuidados maternos.
O Carmelo sempre despertou e continua despertando interesse. É só pronunciar o nome e logo somos levados a pensar na vida contemplativa. As grandes figuras do Carmelo passam pela nossa frente com fidalguia e elegância, relembrando-nos os mistérios dos Deus misterioso que desde o Profeta Elias continua a falar na noite, na montanha e no deserto. A sua presença fiel é sutil e delicada.

UM DOM NOVO DEMAIS

O Carmelo Descalço nasce da experiência mística de Santa Teresa, centrada na humanidade de Jesus, centro vital da vida no novo mosteiro, que culmina no mistério da Trindade, vivida no serviço à Igreja, em comunhão fraterna com os irmãos.
Um elemento importante entre os princípios que nortearam a santa dama de Ávila foi o retorno à Regra primeira da Ordem. O estilo de vida dos primeiros eremitas do Monte Carmelo a fascinava. Era seu desejo que o eremitismo, a contemplação, a oração incessante fosse um elemento fundante da obra. No fundo ela tinha que ter um ideal para fundamentar-se, mas não se tratou de um simples retorno às origens, mas de uma nova concepção de vida religiosa e monástica. “Pretendi que se guardasse esta Regra de Nossa Senhora como no início” (C.3,5), dizia ela. A primeira Regra de Teresa era na realidade a Regra adaptada pelo Papa Inocêncio IV de 1247, e que na época dela se observava com as poucas mitigações introduzidas pelo Papa Eugênio IV em 1432. Não se tinha conhecimento de uma Regra totalmente eremítica dada por Santo Alberto aos primeiros carmelitas na Palestina. Santa Teresa pensava que a única mudança na Regra tenha sido efetivada por Eugênio e o texto anterior seria o texto primitivo.
O certo é que o ideal carmelitano é tomado por ela como um importante ponto de referência (cf. V.32,9; F.29,33; CE 16,4; F.14,4.5; CE 2,7), bem como o ideal mariano da Ordem, patrimônio fundamental e irrenunciável (cf. C48,3; C.13,3; 3M.1,3; F.16,5; F23.5-10).
O fim especial para o qual orientou sua obra era a salvação das almas e os defensores da fé (cf. C.1,5). "Quando vossas orações e desejos e disciplinas e jejuns não forem empregados nisto que disse, pensai que não fazeis nem cumpris o fim para o que aqui as recolheu o Senhor” (C.3,10). Um fim estritamente eclesial e apostólico, portanto. Santa Teresa sentia a Igreja como seu próprio corpo e sabia valorizar a importância dos religiosos em sua estrutura. Gostava de ser chamada filha da Igreja e achava que os problemas pelos quais passava a Igreja não se resolveriam nem pelo diálogo, nem pela luta, mas por uma intensa renovação de vida. Para ela isto significava uma adesão sincera e determinada ao ideal contemplativo do Carmelo.
Santa Teresa concebeu a oração como elemento aglutinador de toda a vida no novo Carmelo. A vida brota da experiência do diálogo com Deus, e dela se alimenta em todos os momentos e em todas as direções. Um diálogo que pressupõe e cria as relações fraternas, com toda a gama de elementos que tais relações abarcam e que ela conhece muito bem. Para Santa Teresa todas têm de ser amigas, todas têm de se querer, todas têm de se amar (cf. CE.4 e 7). Sua vida afetiva e suas amizades humanas são intensas e ricas, na medida mesma de sua paixão pelo Senhor, o mais importante fator de unidade e de crescimento humano e espiritual da comunidade. De fato é o ideal contemplativo que alimenta a companhia dos bons, onde a caridade invade o coração de cada um e a oração sem interrupção torna-se um ideal realizável. "Aqueles, dizia ela, que de fato amam a Deus amam tudo o que é bom, desejam tudo o que é bom, estimulam tudo o que é bom, louvam tudo o que é bom. Aos bons se unem sempre, favorecendo-os e defendendo-os; não amam senão a verdade e as coisas verdadeiramente dignas de amor. Pensais que quem ama genuinamente a Deus possa amar vaidades? Não, tampouco podendo amar riquezas, coisas do mundo, deleites, honras, ou ter contendas ou invejas. Tudo porque não pretende senão contentar o Amado. Desejando ardentemente ser amado por Ele, empenha a vida em entender como agradá-Lo mais” (C.40,3).
Conhecedora a fundo da pessoa humana, Santa Teresa marcou sua obra de um humanismo pouco conhecido e vivido no interior da vida religiosa de seu tempo, fomentando as virtudes sociais como a afabilidade, o respeito e a liberdade, cultivando a alegria e a suavidade da vida fraterna, com meios como, por exemplo, a novidade das recreações duas vezes ao dia; inculcando a dignidade da pessoa humana e a nobreza de alma; louvando e promovendo a formação dos religiosos jovens, o estudo e o culto das letras; ordenando a mortificação e os exercícios ascéticos da comunidade para uma mais profunda vida teologal e acomodando estas práticas ao ministério apostólico; alentando a comunhão entre as diversas casas e a amizade entre as pessoas; dando mais importância ao interior que ao exterior, mais amiga das virtudes que do rigor. Santa Teresa foi tão moderna que ela mesma, provavelmente, não tinha consciência disso.